primavera

eu disse coisas que não saberia dizer a mim mesma. na hora em que olhei pra trás já não dava mais tempo, o ano tinha passado, e naquela rua já era dia. eu vejo a luz daquelas estrelas negras toda a vez que a razão sem sentido se transforma em imaginação fértil no formato de arco e flecha. o escudo, que a princípio deveria me proteger, entra na pele junto com todas as modernidades, e sangra na mesma intensidade de um sorriso dado para fingir que sou igual àqueles que nasceram em outra vida. às 4h da manhã o sol está ardendo tanto, que a minha pele virou escuridão, assim como os olhos que fecham em busca de um quarto onde possam chorar, gritar ou simplesmente descansar em paz, sem ninguém para poder julgá-los. eu me emaranho no cabelo que deixei crescer pra me sentir mais mulher, me perguntando se os cientistas que me observam dentro dessa caixa de vidro conseguem notar algo diferente em mim. provavelmente não, porque eles não tem piedade alguma. as minhas unhas arranharam a parede enquanto a minha boca beijava uma flor, e senti muita dor quando precisava ouvir de alguém que aquilo fazia algum sentido, e o meu amor me disse que eu era alguém incoerente. quando estava pronta pra sair, com batom vermelho e tudo, me elogiaram, falaram que eu estava bonita para me incentivar, mas não adiantou, porque o espelho nunca foi o meu retrato; a profundeza, sim. os outros nunca souberam de nada da gente, e então eu resolvi ficar em casa, porque só a solidão entenderia.
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hoje é dia de primavera, de botar um vestido, mostrar os dentes para a foto, tomar uma cerveja e dar risada do sol da chuva da noite e da desgraça alheia.
e eu, que sempre odiei as regras.

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