a cabeça não
calava
toda aquela falação
de motos que buzinavam
toda a minha exaustão
esqueci quantos anos eu tinha
e se havia comprado as batatas,
céus, as batatas,
e voltando pro mercado
veio um cachorro
do meu lado
quis morar nos seus pelos
tão macios como a voz da minha avó
quando dizia pra correr
que o macarrão ia esfriar
eu pedia um minuto,
só mais um minuto
que era pro minuto
nunca mais se acabar
os tomates pro molho, o alho, a cebola,
e um refrão da música
que não cessava o martelar
o mesmo,
a mesma,
do mesmo
eu tinha 28
pois nasci em 88
mas as motos me lembravam
do horário do jantar
queria um cachorro
com cara de arcanjo
mas e o dinheiro que faltava
pra pagar meu bem-estar?
Freud dizia,
já cansado de explicar,
eu não entendia
já pequena de pensar
o farol fechava e toda a gente
parava
que era pra brincar com o tempo
que ninguém tem pra gastar
a roupa de Jocasta
o julgamento de Arnaldo
a conversa de Adélia
decisão de Juremar
tanta vontade de calar
aquela boca grande
daquela mente distante
que não sabia onde parar
céus, as batatas